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Depoimento: como lidar com chegada da adolescência

Mãe conta de que maneira pais não devem deixar o laço familiar romper

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“Filho é bom, mas dura muito”. Desde quando li esta inusitada frase-título de uma crônica de Mário Prata, publicada em 1994, quando minha filha acabara de nascer, fiquei pensando, ao longo do tempo, o que isso queria dizer.

Não demorou para eu chegar à conclusão que filho realmente é muito bom, mas tem horas que simplesmente a gente não sabe o que fazer com a “criatura”. E geralmente o “botão vermelho” acende nas fases de transição, como, principalmente, a chegada da adolescência.

As crianças crescem muitas vezes num espicho só! E vai surgindo diante de nossos olhos um adolescente arrebatado da infância por uma montanha-russa hormonal. Tudo transforma: o corpo, a voz, o humor, os sentimentos, os pensamentos, as vontades, os interesses…

E é claro que nós, pais, vamos estranhar todas as mudanças. E eles, filhos, tendem a se sentir incompreendidos. O problema maior é que daí a pouco, se não tomamos cuidado, pais e filhos estarão vivendo como estranhos debaixo do mesmo teto e até que se reconheçam novamente, pode levar muitos e muitos anos.

Os filhos crescem e somos nós, os pais, os primeiros que precisam amadurecer.

Precisamos de maturidade para olhar o filho como um ser humano em formação e ver que aquela sementinha em potencial que acalentávamos no colo, agora, está em broto (como também diria minha mãe, só que num sentido mais vaidoso), rompendo a terra para mostrar a que veio, num processo de crescimento acelerado e contínuo.

Apesar de nossos filhos prosseguirem necessitando de muitos cuidados, estes são diferentes dos que dávamos anteriormente.

Muitas vezes, os pais querendo dar uma boa formação aos filhos criam tabus dentro de casa. Sim, é difícil ver nossas crianças expostas aos perigos do mundo e sujeitas a cometerem muitos erros.

E não é raro que ao querer deixar os erros de fora, os pais proíbam uma série de assuntos e possibilidades dentro de casa, muitos dos quais os adolescentes estão sujeitos na rua. E os assuntos mais angustiantes para os adolescentes vão ficando sem espaço na relação com os pais.

É aqui que começa o afastamento e isto é muito triste, porque os filhos perdem a oportunidade de contarem com a presença, a orientação e o amor dos pais num momento tão crítico da vida. Os pais, por sua vez, perdem muito mais…

Perdem a possibilidade de viajar junto com os filhos na montanha-russa em que eles se encontram, de estarem ao seu lado apreciando a rara beleza do desabrochar humano sujeito a milhares de erros, mas que na verdade só assim construirão o caminho dos maiores acertos.

Muitas vezes, a ponte que liga pais e filhos nesta fase é constituída de assuntos difíceis de lidar. Sexo, drogas, bebidas, comportamentos da turma de amigos, valores que estão girando ao redor do filho como satélites e que nem sempre afinam com os nossos ou com os que desejamos que nossos filhos tenham (já vi muitos pais falarem uma coisa e fazerem o oposto, como se o exemplo dado fosse de menor valor que a oratória).

Enfim, por mais abertas que sejam as nossas cabeças, nossos filhos pertencem à outra geração e mais cedo ou mais tarde, eles vão nos surpreender. E o melhor é continuar a ouvir o que eles têm a dizer com a mente, o coração e os ouvidos bem abertos. Só assim vamos saber o que se passa com eles e dessa forma poder orientá-los e ajudá-los a crescer.

Quando os filhos sentem que podem contar com os pais para o que der e vier – mesmo! – ocorre a coisa mais linda que a experiência da maternidade/paternidade pode oferecer: a amizade fundamentada no maior amor que podemos sentir.

Então a gente agradece, agradece e agradece por nosso filho durar tanto! E o mínimo que se espera é que dure a vida inteira…

Isabela Borges

Isabela Borges

Terapeuta especializada em terapias transpessoais constelações sistêmicas, astrologia, tarô e Reiki Integrado. Os atendimentos podem ser pontuais ou em processos terapêuticos e promovem o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal.

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