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Dar e receber colo fortalece relações familiares

Mãe e filha terapeutas explicam como gesto faz bem para emoções

Atualizado em

Nascemos do colo de nossa mãe. Esse colo materno que nos acolhe, alimenta e propicia o espaço para nos formamos como seres humanos. Desde o início, somos carregados neste colo que, depois do nascimento, se torna um bálsamo onde nos deitamos e nos alimentamos física e emocionalmente. Um colo que pode continuar sendo bem-vindo durante toda a vida, que vem deste primeiro vínculo, tão importante para a estruturação do ser.

Quando crescemos, temos a possibilidade de olhar para nossos pais com mais maturidade e observar que, em alguns momentos, eles também precisam de colo, cuidado e atenção.

A vida, como sabemos, é uma montanha-russa, cheia de altos e baixos. Muitas vezes nos deparamos com situações difíceis e percebemos a necessidade de apoiar quem sempre nos apoia.

Em certos momentos, um colo de filho é tão bem-vindo quanto o colo de mãe foi para ele, durante toda sua vida. Aquela mulher, que em nossa infância nos parecia indestrutível e forte, também tem suas fragilidades, dificuldades, angústias e carências. Pode ter, ainda, momentos em que não consegue dar conta de tudo e desmoronar por conta disso, já que também passa por vendavais, furacões e terremotos emocionais.

Quando podemos olhar para nossa mãe com um olhar mais maduro, de adulto para adulto, muitas vezes desconstruímos esta imagem de heroína que tínhamos quando crianças. Então percebemos que em alguns momentos ela também precisa de um colo, um abraço, ou simplesmente alguém que lhe diga: “calma, vai ficar tudo bem”.

Nós, como filhos, fazemos um papel importante ao dar suporte a nossa mãe, pois o colo e o apoio do filho são acalentadores e restauradores, dando aquela força que estava faltando para levantar e seguir em frente. Porém, é importante que neste momento saibamos nos manter no papel de filhos. Nos momentos difíceis temos a tendência de sentir as dores de nossa mãe e/ou nos colocarmos como mãe/pai dela. É fundamental que possamos dar colo, mas um colo de filho, nos mantendo em nosso lugar. Vale tomar cuidado, também, com a simbiose, não permitindo que você sinta dores que não são suas.

A simbiose, no início da vida da criança, é importante para que haja um cuidado suficientemente bom com o bebê. Seria como se mãe e filho se tornassem um só, em uma relação na qual a mãe, nesta forte ligação, pode perceber o que a criança precisa e o que está sentindo, para poder atender as suas necessidades. Porém, às vezes esta simbiose se estende ou se reedita ao longo da vida, de inúmeras maneiras.

O que é importante compreender é que essa relação simbiótica pode fazer com que haja vivências de sentimentos que não são seus, mas de sua mãe. Perceba, nestes momentos, que determinado sofrimento é dela, não seu. Que a história é dela, não sua. E cuide dela como pode, mas não se aproprie de suas dores, afinal as nossas já são suficientes, não acha? Fica difícil ajudar o outro sofrendo as dores dele. Claro que isso vai mobilizar você emocionalmente, pois aquilo que afeta seus pais naturalmente lhe mobiliza também. Mas se mantenha no seu próprio sentimento, acolhendo e dando atenção às emoções de sua mãe, sem se apropriar e se identificar com elas. Perceba qual sentimento é seu e qual sentimento é dela e que você agregou. E ao compreender seus próprios sentimentos e dores, é essencial assumi-los. Assumir que você também está sofrendo, que você também está com raiva, ou qualquer outra emoção detectada que seja sua.

Dar colo para sua mãe não significa se tornar uma fortaleza e deixar de lado o que você pode estar sentindo.

Se mantenha em seu papel de filho, assumindo que você também sente algo com aquela situação e é um sentimento seu. Sem pegar as dores dela, mas assumindo as suas, você pode dar um colo de filho, um colo sincero de amor e carinho no qual os dois sabem seus lugares, mas podem se ajudar.

Desta forma, você pode auxiliá-la muito mais, levando força e firmeza para encarar o que for. E junto com isso, muito amor. Que possamos olhar para nossas mães – sem identificações e simbioses – e acolhê-las em suas dores, dificuldades e cansaços. E com amor, ajudá-las a transformar tudo isso em paz.

Palavra de mãe

A terapeuta holística Regina Restelli, mãe da autora do artigo Luisa Restelli , fala sobre o assunto, do ponto de vista materno.

Este tema é muito interessante, pois os filhos só podem dar colo se eles aprenderem “o que é isso”. A ideia que algumas pessoas cultivam até hoje é a de que só os bebês e as crianças – que ainda não têm maturidade para resolver seus problemas – precisam de colo. Mas a verdade é que todos nós queremos e precisamos de colo sempre, pois somos muito carentes de amor, de forma geral.

A geração de meus pais, em sua maioria, recebeu uma educação pós-guerra, na qual as pessoas eram, em grande parte, severas e ofereciam muito pouco toque físico. Isso acabou criando um distanciamento grande entre pais e filhos, afinal o colo não surgia com facilidade, a não ser em raras exceções. A austeridade e a rigidez predominavam nos relacionamentos. Esta crença de comportamento distorcida pela violência acabou deixando vários sem saber o que era ter um colo para chorar ou só para receber carinho.

Na década de 60, o movimento hippie rompeu com isso e foi muito mais além, pregando o contato físico e o lema “paz e amor”, linguagem que prevalecia na sociedade e caminhava em direção à liberdade sexual, destorcendo os comportamentos para o lado oposto. Nos dias de hoje, já passamos por muitas revoluções sociais e vivemos, ao meu ver, uma mudança agora mesmo. Os relacionamentos virtuais estão aí para nos mostrar isso.

E dentre as informações pertinentes a este assunto, estudos – como o publicado em janeiro deste ano, no “The Journal of Neuroscience” – falam, dentre outras coisas, sobre a importância da oxitocina nas relações afetivas. Considerada o “hormônio do amor”, produz uma série de benefícios à saúde física e mental em situações amorosas. As pesquisas afirmam que para essa produção de oxitocina ocorrer é preciso existir um vinculo afetivo. O toque de pele com pele ou um abraço de no mínimo 20 segundos é um grande desencadeador desta substância produzida no hipotálamo. Imagine, então, o quanto deste hormônio produzimos com um bom colinho amoroso? Este ato de dar carinhosamente um colo tem efeito terapêutico sobre o corpo e a mente de qualquer ser vivo, então devemos aproveitar esta informação para promover mais alegrias aos outros e a nós mesmos.

No papel de mãe, sei o quanto às vezes é difícil discernir em qual momento cabe um colo, quando estamos educando. Quando os filhos são pequenos o colo pode vir com muita frequência, sem medo de errar. Mas na adolescência a coisa fica mais complicada, pois este ato de carinho pode ser rejeitado ou se tornar um elemento negativo em uma situação de conflito. Não sou uma estudiosa do assunto, mas sou mãe. E acho, pela minha própria experiência, que o mais importante é dar sempre a certeza de que o colo e o apoio estão lá. Mesmo que os filhos estejam fazendo escolhas equivocadas. Devemos transmitir nosso desagrado à prole, como uma possibilidade de sofrerem com suas escolhas, desenvolvendo assim uma relação de respeito. Deixando claro que se precisarem de ajuda, estaremos lá com nosso aconchego num bom colo de mãe. É claro que isso depende de cada situação, mas no geral conseguiremos ensiná-los valores morais e amorosos, preparando eles, nossos filhos, para ter uma vida melhor.

Olhando agora por outro ângulo, quando nós – as mães – estivermos mais velhas, também precisaremos de carinho, atenção e paciência. Exatamente como tivemos com eles. E neste caso será mesmo bem parecido, pois costumamos reviver o que aprendemos. Já pensou nisso? Os filhos sempre repetirão os exemplos que tiveram, afinal é o que eles conheceram. Você como uma mãe que já foi filha, agiu assim também. Ninguém pode ter uma atitude que nunca experimentou ou observou antes. Parece bem egoísta, mas é assim que funciona. Temos que fazer para poder receber.

Vamos convir que colo de mãe é maravilhoso! Incrível para filhos e mães. A sensação de ter em seus braços aquela criatura que nasceu de você, não importa com que idade esteja, nem que tamanho tenha, é de um amor tão profundo que não tenho palavras para descrever. A produção do “hormônio do amor” é tão forte que beneficia ambos. E ter colo de filhos é colher o que se plantou, um conforto pacificador, pois a ligação destas duas pessoas gera muita oxitocina-amor e, sem dúvida, mais alegria.

Costumo dizer que escolhemos o que queremos viver. Então, vamos e receber dar mais colo e amor, para sermos mais felizes juntos? O amor entre mãe e filho é a relação inicial, na qual tudo começa em nossas vidas. Receba e dê muitos colos. Sinta esta alegria!

Luisa Restelli

Luisa Restelli

Psicóloga, Psicoterapeuta Corporal e Consteladora Familiar Sistêmica. Realiza atendimentos individuais e de casal no RJ e online e ministra grupos terapêuticos e palestras.

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